A Santa Ceia como instrumento para o exercício da Missão Cristã

A Santa Ceia, juntamente com o Batismo nas Águas, é o que há de mais próximo de um “rito” deixado pelo Senhor Jesus para a Igreja Primitiva. O simbolismo que a Ceia carrega, seu significado, sua importância e tantas outras características são negligenciadas frequentemente deixando uma lacuna na compreensão dos benefícios que Cristo entregou para seu povo.

Nenhum dos dois é dispensável, mas pela sua abrangência teológica e permanência em toda a vida do cristão, a Santa Ceia, sem dúvida, assume uma característica destacada em relação ao batismo. Ou seja, por ser algo que o cristão genuíno precisa realizar regularmente durante toda a sua vida, ela tem um caráter muito mais impactante. Com base nessa característica, a Santa Ceia precisa ser pensada e tomada de forma consciente e longe de leviandade por parte daqueles que se dizem cristãos.

Há um risco, porém, que a regularidade guarda: a rotina. E a rotina sempre vem acompanhada da acomodação até que, finalmente, ela deixa de ser efetiva enquanto instrumento de representação do ato redentor do Senhor Jesus Cristo, perdendo gradativamente sua importância, não pela sua natureza em si, mas pela banalização do ato.

O objetivo deste trabalho é resgatar a profundidade da Santa Ceia, enquanto expressão da obra que Cristo realizou na cruz, oportunizar a apresentação do Evangelho de forma vívida e se inserir em um plano de ação comunitário para promover conversão aos que não creem e santificação àqueles que já foram alcançados pela Graça do Senhor, enquanto celebram o amor revelado em Cristo e aguardam sua triunfante e volta que consumará sua obra.

OS DIFERENTES REGISTROS BÍBLICOS DA CEIA

A Ceia foi registrada em pelo menos quatro episódios bíblicos conforme listados a seguir:

  • Mateus 26:26-29 – Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: “Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai”.
  • Marcos 14:22 – 25 –  Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomem; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças, ofereceu-o aos discípulos, e todos beberam. E lhes disse: “Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Eu lhes afirmo que não beberei outra vez do fruto da videira, até aquele dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus”.
  • Lucas 22:17-20 – Recebendo um cálice, ele deu graças e disse: “Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus”. Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês.
  • 1 corintios 11: 17-34 – Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem. Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio. Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados. Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não! Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto, sempre que o beberem, em memória de mim”. Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. Mas, se nós nos examinássemos a nós mesmos, não receberíamos juízo. Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo. Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer, esperem uns pelos outros. Se alguém estiver com fome, coma em casa, para que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em condenação. Quanto ao mais, quando eu for lhes darei instruções.

Não é difícil perceber que Paulo quem mais detalhou o significado e a importância daquele momento único e especial, sendo que João, seguindo seu registro peculiar, não deu a mesma ênfase a este momento, embora possa se perceber que o significado contido nos outros registros pode ser encontrado nas palavras do evangelista. Está fora do escopo deste trabalho analisar as nuances dos registros dos autores (até porque inúmeros autores já se dedicaram a tal tarefa) e a abrangência deste trabalho não permite tal nível de detalhamento, optou-se por partir do registro da Ceia feito por Paulo considerando ainda o papel que desempenhou como teólogo, missionário, pastor e sua relevância para o Cristianismo como um todo.

O contexto em que Paulo apresenta seu relato é sua carta a igreja de Corinto, sem dúvida uma igreja que vivia inúmeras dificuldades provenientes de sua ampla gama de pecados. É bastante interessante perceber que Paulo dedica um trecho considerável de sua carta, não para elogiar, mas para tratar das reuniões que haviam perdido seu caráter congregacional e reflexivo. O ponto agora não era mais apenas a existência de divergências, Paulo até acredita que um debate pode ser saudável, pois pode ser uma ferramenta para identificar os cristãos maduros. O fato, porém, é que as reuniões dos cristãos haviam se tornando mais prejudiciais que benéficas e o cerne desse malefício girava em torno da perda da consciência do Ceia. Sendo assim, mostra-se muito importante para as igrejas de todas as épocas aprofundar a compreensão dessa prática de modo a viabilizar a Missão da Igreja em todas as suas dimensões e evitem reviver aquele cenário vergonhoso.

A MISSÃO DE SER COMUNIDADE

Pode parecer óbvio que ao escrever para uma igreja local envolvida em pecados, Paulo tivesse a intenção de restaurar o caráter de fraternidade que deve ser uma marca da igreja cristã [João 17:21]. Mas é interessante perceber que a perda do sentido da Ceia era uma das principais evidências da desorientação que aquele grupo experimentava.

Primeiro, a postura dos participantes era totalmente egoísta, desconsiderando as diferenças de posses. Paulo aponta que o propósito não era mais para comer a Ceia do Senhor, pois ninguém esperava o outro para uma refeição compartilhada. A Ceia deve ser, portanto, um momento para exercitar a comunhão e a sensibilidade às necessidades dos outros irmãos. Paulo manifesta sua indignação ao fato de que, enquanto alguns passavam necessidade, outros se fartavam de comida e se embriagavam.

A Ceia antes de tudo era uma celebração à aliança que Cristo estabeleceu com os seus. Uma aliança com todo aquele que confessa seu nome, sejam os ricos “Nicodemus” e “Zaqueus” ou apenas mulheres samaritanas, pobres cegos e aleijados excluídos socialmente. Se Jesus era o Soberano de um novo Reino, eles deveriam lembrar que mesmo alguém da estatura espiritual de João Batista era “inferior” ao menor no Reino. Também deveriam se lembrar de quão equivocada era a busca por “sentar-se à direita e à esquerda” do Senhor, porque não lhes cabia essa decisão. Deveriam se lembrar que na busca pelas moedas, um dos doze traiu seu Senhor e o entregou para ser crucificado. Tal indiferença denunciava o caráter individualista que aquele grupo havia assumido. Mais do que indiferença, sua postura era de desprezo pela igreja, deveriam se lembrar de Ananias e Safira que ao mentir para a igreja, estavam mentindo para Deus.

Como uma igreja que agia assim poderia se lembrar que o Mestre Jesus um dia lavou os pés de seus discípulos e lhes ordenou que fizessem o mesmo uns pelos outros? Embora parecesse impossível àquele grupo, Paulo sabia que a Ceia tem um caráter de humildade e serviço mútuos, marca de qualquer comunidade seriamente baseada em Cristo. O próprio Paulo indicou que os dons recebidos são para edificação mútua, de modo que os discípulos que compõem a igreja possam ser preparados e resistir aos ventos de doutrina que soprariam mais cedo ou mais tarde.

A Ceia deve ser um memorial para relembrar que se deve compartilhar aquilo que foi recebido do Senhor, sejam dons, recursos financeiros, alimento ou simplesmente o amor. A Ceia deve levar ao reconhecimento da condição de mordomos de Deus, nada do que se possui, de fato, lhe pertence. A Ceia, ao representar o sacrifício de Cristo que, espontaneamente, se entregou por seu povo, deve ser um estímulo ao serviço mútuo.

A MISSÃO DE PROCLAMAR O EVANGELHO

Um dos aspectos associados à Santa Ceia, está a proclamação do Evangelho. As palavras de Paulo indicam isso, pois todas as vezes que os cristãos comerem o pão e beberem do cálice a morte do Senhor é anunciada. Nesse sentido vale refletir sobre os elementos da Ceia e como apontam para o sacrifício de Cristo feito na cruz pelos pecadores.

Paulo replica a informação apresentada nos Evangelhos de que o pão partido simboliza o corpo de Cristo que foi partido em favor dos Cristãos. É interessante perceber que a palavra que foi traduzida por quebrar só é usado para a Ceia, apontando para um sentido único, exclusivo, singular para aquele ato. Além disso, esse mesmo termo é repetido para enfatizar que o partir do corpo de Cristo é feito para benefício deles, isto é, daqueles que estavam consumindo a Ceia.

Não é feita nenhuma referência direta ao sacrifício apontado em Levítico 1, por exemplo, mas tal associação faz todo sentido, uma vez que, neste trecho da Lei, fala-se no sacrifício animal cujo sangue é derramado e o corpo partido em holocausto a fim de que, aquele que apresenta o holocausto, seja aceito. Isto é, o animal é oferecido como propiciação tomando o lugar daquele que oferece o sacrifício. Não há como não reconhecer o elemento de tipologia no texto da Lei. A omissão pode ser compreendida se for aceito que os destinatários da epístola tinham conhecimento do contexto veterotestamentário, conforme aponta DUNN [2 DUNN,  James D. G., 2008, A Teologia do Apóstolo Paulo, São Paulo: Paulus, 2008, p.43].

Essa compreensão é fundamental, embora não ocorra nas diversas comunidades onde a Ceia é ministrada, mas também porque o sacrifício de Cristo cumpre definitivamente o papel de holocausto substitutivo [3 – Hebreus 9:12] e a compreensão do Evangelho. Se Evangelho é o anúncio das boas novas de que Cristo ofereceu seu corpo para ser partido e o seu sangue para ser derramado, com o propósito de pagar o preço do pecado que todo ser humano carrega, então a Ceia é a representação perfeita desse ato e para ser ministrada apropriadamente, deve-se considerar os aspectos apontados na Lei.

Um segundo aspecto associado ao anúncio do Evangelho que está presente na Ceia é que a mensagem se torna viva por meio da vida dos que participam da Ceia. Todos os que tomam a Ceia devem refletir e demonstrar que o sacrifício de Cristo está sendo eficaz na transformação constante dos cristãos. Ou seja, uma vez que a Ceia convoca o cristão a refletir se sua postura é digna do que fez Jesus, em todas as ocasiões é oferecida uma oportunidade de arrependimento, se levado a sério, com legítima contrição, há crescimento, há transformação.

Tal transformação é fundamental para a credibilidade do Evangelho e solenidade do momento. Se a Ceia é um momento de refletir sobre a dor sofrida pelo Cordeiro, ela também é o palco mais do que indicado para celebrar a vitória do Senhor. Foi essa vitória que permitiu que as barreiras entre gentios e judeus fosse removida [4 – Efésios 2:14], ela é o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, tudo isso, e muito mais, está simbolizado na Ceia.

Sendo assim, a Ceia nunca deve ser vista como um rito estático e frio. Pelo contrário, deve-se ter a plena consciência de que ela é dinâmica, como dinâmico é o Espírito, como dinâmico deve ser o povo de Deus no anúncio de suas boas novas. Ela purifica, não por uma transformação substancial, mas por uma transformação essencial a todo cristão: a que procede do coração que se arrepende.

Nesse sentido, a Ceia aponta para uma comunidade de santos que não cabe em nenhuma instituição. Ela expande as fronteiras por seu simbolismo plenamente acessível aos povos de toda língua e nação. Institucionalizar a Ceia, é um passo para uma institucionalização eclesiástica que não contribui para o anúncio do Evangelho, antes o limita por lhe podar o dinamismo inerente aos comissionados pelo Senhor. Ao ministrar a Ceia é preciso considerar tais aspectos. 

No que tange à Missão de anunciar o Evangelho, entende-se que este tópico parece ser redundante ou mesmo, de menor importância. Grande equívoco se comete nesse sentido.

A MISSÃO DE ANUNCIAR A VOLTA DE CRISTO

Anunciar a volta de Cristo nos dias atuais é algo que parece um ato de loucura, um delírio fanático, uma irresponsabilidade social. Já não bastam os problemas sociais para retirar da sociedade a esperança de dias melhores? Como aqueles que deveriam trazer a expectativa de dias melhores, anunciam o fim de todas as coisas?

Por mais que a sociedade em geral condene, esse é exatamente o anúncio que a Ceia faz e cabe aos cristãos, não apenas assimilá-lo como verdade, mas tornar conhecido. Assim como um dia o mundo, não como se conhece, foi criado e experimentou a queda, ele deverá ser reformulado para que reflita a glória de um Deus perfeito que cria tudo em perfeita ordem.

Assim como é necessário que o corpo humano experimente a morte para ser glorificado [5 – 1 corintios 15:42-42], também este mundo deverá experimentar a renovação. A volta de Cristo promete ser o evento de renovação, quando a obra do Senhor se consumará nesse nível da existência e concretizará o perfeito plano de Deus. Nesse dia tão esperado pelos profetas e pelos cristãos primitivos, o Senhor destruirá todos os seus inimigos, punirá todos os que não reconheceram seu amor supremo e trará para junto de si aqueles que se entregaram para ser salvos pelo Messias.

Paulo registra as palavras de Cristo que indicam que a Ceia não será realizada eternamente, ela tem data para acabar: “até que eu venha”. É verdade que a obra de Cristo já foi consumada [6 – João 19:30], indicando que tudo o que era necessário para a plena salvação daquele que crê já foi disponibilizado na esfera espiritual, mas também é verdade que se vive a tensão de que a transformação da realidade, tão prometida e ansiada desde sempre, ainda não ocorreu em todo a sua plenitude. 

Isto significa que a Igreja vive duas realidades: uma já contempla a obra de Cristo e outra ainda está em Missão, anunciando que é chegado o Reino e é tempo de arrepender-se. Muito já se falou dessa tensão e não há espaço para refletir tudo o que abrange tão espetacular conceito teológico, mas não se pode esquecer que a Ceia em si, já é um ato de anúncio do evento da volta de Cristo. A comunidade que ignora isso, elimina um importante elemento da Ceia, enfraquece seu significado e contribui para secularização e, até mesmo, desesperança de que Deus permanece Senhor do tempo [7 – 2 Pedro 3:8] e sustenta tudo com sua poderosa mão. Ninguém ficará impune diante da justiça do Senhor.

Portanto, que ninguém se engane. A Ceia confirma que essa realidade vive os últimos dias, que cessarão de forma tão súbita quanto a chegada do ladrão e tão rapidamente de modo que ninguém estará pronto. Nesse dia, Jesus retornará de forma triunfante e em todo o seu esplendor. A Ceia, enquanto relembra o fato de que Cristo foi morto como maldito embora sem pecado, também anuncia que a morte não tem a palavra final. Do contrário não faria sentido ordenar que a Ceia fosse consumida até sua. Nesse simples fato subentende-se que Cristo não ficou aprisionado pela morte, e sua volta deve ser anunciada, mais até do que anunciada, deve ser esperada e cabe a cada cristão, evidenciar que ela será boa ou ruim, dependendo de sua compreensão do que foi a cruz de Cristo. Não há nenhum instrumento tão explícito, no sentido de apresentar tantos aspectos fundamentais, quanto a Ceia. Sendo assim, é plenamente cabível que tal realidade seja pronunciada e explicada todas as vezes que a Ceia for ministrada.

CONCLUSÃO

Se Lutero estava correto em afirmar que o verdadeiro teólogo tem que partir da cruz [8 – MCGRATH, Alister R. Lutero e a Teologia da Cruz, São Paulo: Cultura Crista, 2014, p. 206] e a melhor representação do que foi feito na cruz é a Santa Ceia, então não há recurso mais rico para uma correta e profunda reflexão teológica. Se a verdadeira Teologia não pode ser separada da prática de vida [9 – Ibd, p.222], então toda comunidade que se diga cristã, deve olhar para a Ceia como um instrumento indispensável no exercício da Missão da Igreja, pois a Missão sempre deve estar baseada na cruz.

Muitas vezes, porém, a simplicidade da Ceia pode ser desconcertante para uma cultura que associa Teologia à sofisticação, a ponto de ser difícil saber como transformar a Ceia em um “programa” eclesiástico, pois o que a igreja primitiva fazia era apenas uma refeição em que consumia elementos totalmente comuns (pão e vinho), presentes no cotidiano de qualquer lar daquela sociedade.

Então, como uma comunidade pode fazer o uso correto da Ceia para transformá-la em um efetivo instrumento para a Missão? Cada comunidade tem sua própria dinâmica, cultura e complexidade. Estabelecer um “método”, seria, não apenas, uma grave desconsideração a essa singularidade, como também colocaria em risco qualquer tipo de sugestão.

Ainda assim, a igreja, verdadeiramente cristã, precisa considerar princípios fundamentais a partir dos quais seus integrantes precisam resgatar a essência profundamente relacional da comunidade cristã. Poucos momentos da existência humana são tão significativos quanto uma boa refeição, pois, além de ser um momento prazeroso, ele é fundamental para a sobrevivência.

Portanto, uma comunidade cristã saudável precisa aprender a construir seus relacionamentos e sua Missão em volta da mesa de refeições, pois esses momentos criam a atmosfera ideal para o surgimento das dúvidas que permitirão aprofundar ou até mesmo descobrir a compreensão teológica da pessoa. Mais que isso, é nas conversas sobre o cotidiano que são revelados os ídolos do coração e todos os subterfúgios que utilizam para se camuflar.

Mas o objetivo não pode ser apenas refletir, mas permitir, em um contexto totalmente informal, compreender a verdadeira “teologia prática” que revela suas nuances nas mais diversas atitudes, das mais simples às mais complexas. Portanto, cristãos que desejam desenvolver a Missão de compartilhar a obra redentora de Jesus Cristo usando a Ceia como uma ferramenta de divulgação, precisam ter como princípios: a gratidão pela provisão de Deus; o compartilhar do pão com os irmãos que tem menos recursos; a prontidão decorrente da expectativa da volta súbita de Cristo; a consideração de que todos são iguais perante Deus; o sacrifício substitutivo de Cristo; arrependimento e transformação de vida.

Ainda que sejam princípios, todos devem se refletir em ações que sejam perceptíveis quando se está sentado à mesa compartilhando uma refeição com um coração cheio de gratidão pela Graça de Deus. Não se está sugerindo que a Ceia solenemente realizada em comunidade seja um erro, ou mesmo que deva ser abolida da liturgia regular, o que se busca, porém, é que sua força e sua mensagem extrapole os limites dos salões de reunião e faça parte do cotidiano fraternal, familiar e social, promovendo oportunidades perfeitas para explicar o amor do Pai, manifesto no gesto simples de seu Filho. Que Deus abençoe seu povo nesse propósito.


BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida,2000

DUNN,  James D. G., 2008, A Teologia do Apóstolo Paulo, 2ª Edição, São Paulo: Paulus, 2008

MCGRATH, Alister R. Lutero e a Teologia da Cruz, São Paulo: Cultura Crista, 2014

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